sexta-feira, 16 de novembro de 2012

AS LÍNGUAS ESTRANHAS (2)

A Natureza dos Dons - Considerações:

Muitos creem que embora as línguas de Atos fossem deveras idiomas estrangeiros, as línguas de 1 Coríntios eram diferentes – eram expressões extáticas, balbuciações, que continham uma revelação de Deus compreensível para o próprio Deus (para uso privado, devocional) e para o intérprete (para uso público). Contudo, este não é o caso; e que estas línguas eram idiomas estrangeiros é evidente a partir das seguintes considerações:



1. A palavra Grega traduzida por “línguas” nas Escrituras (glossa ) normalmente se refere à língua como um órgão físico ou como um idioma humano. Este é precisamente seu uso hoje – falamos com nossas línguas em nossa língua nativa. A palavra pode ser usada com referência ao falar extático, mas tal uso é completamente estranho ao Novo Testamento. A menos que haja uma boa razão (evidência) para entender o termo como se referindo ao balbuciar, é injustiça assumi-lo como tal, especialmente à luz do fato de que seu significado por toda parte no Novo Testamento é sempre o contrário.
2. Em Atos 2 as línguas, claramente, eram idiomas humanos conhecidos (isto é, conhecido para alguns que ouviam). As “outras línguas” (heterais glossais) do verso 4 são explicadas como sendo os idiomas dos Partos, Medos, Elamitas, Mesopotâmicos, etc., nos versos 9-11. No verso 6 aqueles que ouviam os discípulos pregar, lhes ouviam em sua “própria língua”. O termo grego para “língua” neste verso (e no verso 8) é dialektos, de onde vem a palavra portuguesa “dialeto”; ela pode significar somente idioma, nunca balbucio. Além do mais, é claro que em Atos 2 as línguas eram designadas para ser o método de comunicação efetiva para aqueles que estavam visitando Jerusalém para a festa de Pentecoste. Em outras palavras, as línguas de Pentecoste quebraram a barreira da linguagem; elas não estabeleceram uma barreira de linguagem. Esta regra tira qualquer possibilidade de balbucio.
3. Semelhantemente, o dom era claramente de idiomas em Atos 10 também, porque em Atos 11:15-17 Pedro o identifica como o mesmo fenômeno que ocorreu em Atos 2. Parecerá óbvio, então, presumir o mesmo para as línguas de Atos 10 também.
4. O dom de línguas em 1 Coríntios nunca é declarado ser algo diferente daquele de Atos. Entendê-las como sendo algo diferente, requereria alguma explicação. Além do mais, os relatos de Atos foram escritos por Lucas, que era um companheiro de Paulo; é inconcebível que ele falasse de outra espécie de línguas sem explicação.
5. Em 1 Coríntios 14:14 Paulo fala que alguém que fala em uma língua edifica a si mesmo. É evidente, então, que ele entendia o que estava dizendo, porque a edificação seria impossível aparte do entendimento (o que Paulo prossegue estabelecendo nos versos seguintes). Incidentalmente, é evidente também a partir disto que o verdadeiro dom de línguas não era uma experiência puramente emocional, mas uma na qual a mente estava ativa. A implicação de Paulo era que alguém falava numa língua, entendia o que ele estava falando, e assim era edificado. Seu ponto nos versos seguintes é que o que não pode ser entendido, não pode edificar. O dom de línguas é frequentemente caracterizado, hoje, como se ele fosse um transe santo de alguma espécie, falando coisas desconhecidas até mesmo para o próprio locutor! Isto está claramente excluído pela implicação de Paulo aqui. A concepção é que o locutor, em completo controle de suas faculdades mentais, sabe o que ele quer falar e é capaz, sobrenaturalmente, de dizer isso em outro idioma. Como todos os outros dons, as línguas eram exercitadas inteligentemente.
6. 1 Coríntios 14:10-11 claramente demanda o mesmo. Paulo estava falando de línguas “no mundo” e isto demanda sons distintos, idiomas conhecidos.
7. Em 1 Coríntios 14:18 Paulo declara que ele falava em línguas mais do que qualquer um deles. Ele segue com uma declaração afirmando que esta nunca foi sua prática na Igreja (verso 19). A única coisa que poderia se fazer necessário para Paulo falar em línguas mais do que eles, então, seria sua necessidade delas nas suas jornadas missionárias. Novamente, isto aponta para idioma, não para balbucio; porque o balbucio teria sido sem sentido na sua obra de missões estrangeiras; o idioma, por outro lado, teria sido o mais útil possível.
8. Em 1 Coríntios 14:21 Paulo associa seu dom de línguas com a profecia de Isaías sobre Israel ouvindo o idioma Assírio. Entender o dom como balbucio, destrói seu ponto de referência totalmente.
9. Em 1 Coríntios 14:22 Paulo diz que as línguas eram “um sinal”. Elas eram tão espetaculares que despertavam atenção. Somente um idioma humano pode ser eficaz como um sinal. O falar extático era bem conhecido muito antes do século XI a.C., especialmente como uma parte das religiões misteriosas Gregas; ele serviria somente para associar os Cristãos de Corinto com seu passado pagão. O que fazia o dom de línguas Cristão diferente e significante era o fato que aqueles assim dotados, eram capazes de falar em idiomas não aprendidos previamente; mero balbucio, falar extático, não teria sentido algum e assim não poderia servir como um sinal.
10. As palavras gregas hermeneuo e diermeneuo traduzidas por "interpretar" e "interpretação" em 1 Coríntios 14, normalmente significa “traduzir” de um idioma para outro. É como a palavra é frequentemente usada hoje: quando um homem de um idioma fala para uma audiência de outro, ele fala através de um “intérprete”. Este é seu significado comum através de todo o Novo Testamento e da Septuaginta (a tradução grega do Velho Testamento; por exemplo, Gênesis 42:23; Esdra 4:7; João 1:42; Atos 9:36). “Tradução”, então, aponta para idioma, não para balbucio.
11. Jesus especificamente proíbe o falar extático em oração: “E, orando, não useis de vãs repetições, como fazem os gentios” (Mateus 6:7). O termo grego traduzido por “vãs repetições” não tem nada a ver com um pedido de oração repetente (embora Jesus use a palavra aqui para se referir também à descuidada repetição de orações), mas antes significa “balbuciar” ou “falar balbucios”. Jesus, aqui, expressamente proíbe o balbucio. É inconcebível que Ele proibisse algo que era em si mesmo um dom espiritual. A única alternativa é que as línguas eram realmente idiomas. Deus nunca intencionou que os homens falassem ou orassem em uma “linguagem” que até mesmo eles não poderiam entender. Tal coisa teria sido sem propósito algum. (Retirado do Livro Línguas estranhas entre os crentes).

(No próximo continuaremos falando das Objeções – Aguardem)

Pr. José Francisco – Igreja Presbiteriana do Brasil

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