sexta-feira, 21 de agosto de 2009

FÉ E PIONERISMO - IG. PRESBITERIANA DO BRASIL 150 ANOS!!

Igreja Presbiteriana do Brasil comemora os 150 anos da chegada do missionário Ashbel Simonton ao país

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O navio Banshee, que aportou no Rio de Janeiro em 12 de agosto de 1859, depois de cinquenta e quatro dias de uma exaustiva viagem desde os Estados Unidos, não trazia apenas comerciantes, famílias e gente interessada em tentar a sorte do lado de baixo da linha do Equador. A bordo, um jovem de aspecto distinto e barba bem cuidada não deve ter chamado muito a atenção dos viajantes. Era Ashbel Green Simonton, missionário enviado ao Brasil pela Junta de Missões da Igreja Presbiteriana do Norte. A opção pela pregação do Evangelho no pouco conhecido Império da América do Sul foi uma guinada e tanto para um jovem com futuro promissor em sua terra. Advogado, teólogo e professor, o erudito Simonton, além de graduado no Seminário de Princeton, dominava francês, alemão, latim e italiano.

O preço da escolha seria ainda mais alto, já que, devido às péssimas condições sanitárias do Brasil de então, o missionário acabaria morrendo precocemente, provavelmente devido à febre amarela. Mas sua chegada, há exatos 150 anos, é um marco da implantação da fé protestante em território brasileiro. Foi ele quem fundou a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), hoje uma das cinco maiores confissões evangélicas do país, com mais de 700 mil fiéis – fora as outras igrejas de linha reformada que se originaram na IPB. E todos eles estão em festa pela passagem do sesquicentenário.

Desde o ano passado, eventos e cultos solenes estão sendo realizados pelo Brasil, e o ponto alto das celebrações é agora em agosto. Além da inauguração de um monumento em homenagem a Simonton no Porto do Rio, está programada uma grande cruzada nacional de ação de graças na Praça da Apoteose.

“Muitos protestantes já haviam pisado em solo brasileiro, mas a maioria das iniciativas foram fracassadas, já que o país era oficialmente católico”, observa Alderi de Souza Mattos, historiador ligado à denominação. Na capital do Império, Simonton logo pôs as mãos na boa obra. Duas semanas após sua chegada, organizou o primeiro culto. Logo aprendeu o português e, em 1862, fundou a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, contando já com diversos novos convertidos. Foi dele a iniciativa de abrir um seminário teológico para formar obreiros nacionais, numa época em que missões transculturais tinham muito a ver com ideias colonialistas. “É preciso haver pastores brasileiros para brasileiros”, acreditava. Seu pioneirismo também ficou claro na fundação do primeiro jornal cristão do Brasil, o Imprensa Evangélica. “É impossível alcançar um país tão vasto sem o auxílio da palavra impressa”, escreveu na edição inaugural.

Expansão – Após um curto período nos Estados Unidos, onde casou-se com Helen Murdoch, o pastor Simonton voltou ao país em 1863, agora em definitivo. Montou escolas dominicais e organizou novas congregações em São Paulo. Àquela altura, tanto missionários que vieram para cá a seu convite – além do cunhado Alexander Blackford, Francis Schneider, George Chamberlain e Robert Lenington – como os obreiros brasileiros formados no Seminário Presbiteriano já semeavam a Palavra pelo interior paulista, sul de Minas Gerais e Bahia. Outro que contribuiu muito para a expansão do trabalho foi o ex-padre José Manoel da Conceição, primeiro brasileiro a ser ordenado ministro do Evangelho, em 1865.

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Simonton morreu precocemente, aos 34 anos, em 1867, na cidade de São Paulo, sem poder ver a dimensão de seu legado. Nos anos seguintes, os presbiterianos deram uma notável colaboração ao crescimento do país, fundando estabelecimentos de ensino como a Escola Americana – precursora do tradicional Instituto Mackenzie –, hospitais e igrejas em todo o território nacional. Um dos principais marcos da presença da denominação no país é o majestoso templo da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, em estilo neogótico, tombado pelo Patrimônio Histórico. É ali que será celebrado, no dia 12 de agosto, o Culto do Sesquicentenário.

Carlos Fernandes - FONTE: cristianismhoje.com.br

POR DEBAIXO DOS PANOS! OS EVANGÉLICOS QUE SE CUIDEM!!

Nove meses depois de firmado, tratado entre Brasil e Vaticano só agora chama a atenção da sociedade e desperta críticas

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Um acordo assinado entre o governo brasileiro e o Vaticano no fim do ano passado e que agora tramita no Congresso Nacional está deixando setores da Igreja Evangélica nacional bastante preocupados.

Os detalhes, que começaram a ser acertados durante a visita do papa Bento XVI ao país, em 2007, estão no documento Acordo entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé relativo ao estatuto jurídico da Igreja Católica no Brasil, firmado no dia 13 de novembro de 2008, durante visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Estado do Vaticano.

O instrumento leva as assinaturas dos ministros do Exterior da Santa Sé, D.Dominique Mamberto, e do Brasil, o chanceler Celso Amorim. Negociado sem um debate mais amplo e sem a divulgação adequada – apesar da comitiva de jornalistas que acompanhava o presidente, as notícias veiculadas sobre o assunto não detalharam aspectos do tratado –, o acordo, em tese, apenas regulamenta o funcionamento da Igreja Católica Apostólica Romana em território brasileiro. Mas também pode desencadear interpretações enviesadas e tendenciosas.

Submetido em fevereiro ao Legislativo na forma da Mensagem 134/2009, o documento deverá ser apreciado pelas Comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) e pela de Constituição e Justiça e de Cidadania – CCJC. No momento, o acordo aguarda a designação dos relatores responsáveis pelos pareceres em cada Comissão. Com 20 artigos, ele trata de diversos assuntos, incluindo amenidades como as relações diplomáticas entre a Santa Sé e o Estado brasileiro e o reconhecimento mútuo de títulos e graduações acadêmicas. Mas alguns de seus trechos geram polêmica, como o que trata do ensino religiosos nas escolas e da natureza e conservação do patrimônio da Igreja e instituições católicas. Representantes de órgãos ligados à Igreja Evangélica já manifestam preocupação. “A proposta de ensino religioso, nos termos do Artigo 11 do acordo, contrapõe o princípio de laicidade do Estado”, aponta o Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (Fonaper).


Em manifesto, a entidade reclama que o conteúdo do acordo não passou por um debate público, aberto e transparente sobre as implicações poderia trazer à sociedade brasileira. “O processo democrático exige que as questões de interesse público sejam amplamente debatidas pela sociedade”, lembra o Fonaper. O fórum expressa maior preocupação em relação à parte que trata do ensino religioso. No entender do organismo, a menção específica ao ensino católico nos currículos escolares contraia a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.475), que estabelece que o ensino religioso deve ter caráter amplo, baseado nos princípios e valores comuns a toda as religiões “como forma de exercitar e promover a liberdade de concepções”. Para o Fonaper, a proposição poderia expressar uma concepção de ensino religioso a serviço das instituições religiosas – no caso, o catolicismo – e não da educação.

“Poderia a Igreja Católica transformar tal espaço em aulas de religião, para catequização e doutrinação religiosa?”, indaga o manifesto.

Além disso, o status do tratado confere à Igreja Católica uma representatividade que as demais confissões jamais terão, já que é ligada a um Estado estrangeiro. O Colégio Episcopal da Igreja Metodista também veio a público manifestar sua contrariedade com a iniciativa, em nota assinada pelo seu presidente, bispo João Carlos Lopes.

Lembrando que o direito à liberdade religiosa é um dos pilares das sociedades democráticas, o órgão denominacional denuncia que ele fere preceitos constitucionais relativos à separação entre a Igreja e o Estado e apela aos legisladores para que não referendem o acordo.

Patamar diferenciado – “Ratificar o acordo significará o Congresso Nacional alçar a Igreja Católica, por meio de um acordo internacional, a um patamar oficialmente diferenciado das demais religiões”, critica a professora Roseli Fischmann, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ela, uma vez aprovado pelo Legislativo, o texto – que chama de concordata entre um Estado laico, o Brasil, e um teocrático, o Vaticano – passa a integrar o direito brasileiro, “atropelando processos legislativos complexos como os que a ordem constitucional garante, tanto do ponto de vista processual da técnica legislativa, quanto das negociações políticas inerentes à democracia”.

A estudiosa lembra que o texto assinado busca justificação baseando-se, de um lado, nos documentos do Concílio Vaticano II e no Código Canônico, o que, no seu entender, pode representar uma regulamentação da esfera civil baseada em normas religiosas. “A Igreja Católica, como religião, tem direito de escolher a norma que quiser para regulamentar a vida de seus seguidores, mas estes também precisam ver respeitados seus demais direitos como cidadãos brasileiros, sendo que poderão invocá-los quando quiserem, sem restrições ou privilégios.”

Outro item polêmico do acordo binacional é o que versa sobre isenções fiscais para rendas e patrimônios de pessoas jurídicas eclesiásticas, mencionadas no artigo 15. É que existe uma grande preocupação sobre o uso da imunidade tributária das receitas das igrejas, e não apenas a Católica. Uma das cláusulas determina que imóveis, documentos e objetos de arte sacra integram o patrimônio cultural brasileiro, e que tanto a Igreja quanto o poder público passam a ser responsáveis pela sua manutenção. Em tese, o dispositivo abre brecha para que recursos públicos sejam investidos na conservação de bens de natureza privada. “Mais que estabelecer o território dos templos católicos como se tivessem imunidade diplomática, o acordo estende seu braço normativo e restritivo de direitos estabelecidos pela Constituição Federal ao conjunto da cidadania brasileira”, insiste Roseli.

Apontada pelo Acordo entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé como instância representativa do catolicismo nacional junto ao governo brasileiro, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) defende que seu conteúdo não concede privilégios à Igreja Católica. Em nota divulgada logo após a assinatura do tratado, a CNBB afirma que ele “não concede privilégios à Igreja Católica nem faz nenhuma discriminação com relação às outras confissões religiosas”. A senadora Ada Mello (PTB-AL) também defende a constitucionalidade do tratado. Segundo a parlamentar, ele apenas “formaliza aspectos já vigentes no dia-a-dia do país”.

Na verdade, o documento firmado entre o Executivo brasileiro e o Estado do Vaticano não foi uma resolução nova.

Há alguns anos, a Santa Sé vem trabalhando para fazer com que o maior país católico do mundo firmasse o compromisso. O assunto foi discutido muitas vezes nos últimos anos dentro de vários ministérios em Brasília, visando à formulação do texto. O caráter sigiloso da matéria é que chama a atenção. De forma semelhante, em 2004, um tratado do gênero foi assinado entre o governo de Portugal, outra nação tradicionalmente católica, e o Vaticano.

Desde então, uma comissão paritária , com membros nomeados pelas duas partes, tem poder de decisão sobre assuntos nacionais, como o ensino religioso nas escolas públicas.
“Na medida em que o acordo contenha direitos e prerrogativas para a Igreja Católica, esperamos que o governo brasileiro os estenda, com naturalidade, às demais confissões, pois trata-se de preceito constitucional que não pode ser ferido”, defende o pastor Walter Altmann, presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Em uma carta pastoral, o dirigente avalia a substância do acordo quanto às suas consequências e repercussões em relação à liberdade de culto, ao ensino religioso nas escolas públicas e ao reconhecimento dos ministros religiosos. “São assuntos que dizem respeito não apenas à Igreja Católica, mas também às demais igrejas.

Nesse sentido, lamentamos que o acordo tenha sido elaborado, negociado e, por fim, assinado sem que tivesse havido uma troca de idéias e um diálogo com outras confissões religiosas, bem como com a sociedade em geral”, enfatiza a carta.

Repórter: Yuri Nikolai - fonte: cristianismohoje.com.br