O PROPÓSITO DA CARTA AOS ROMANOS
Diferentemente de
outras cartas, Paulo não escreveu aos romanos para resolver problemas locais e
circunstanciais. Por isso, essa carta parece mais um tratado teológico que uma
missiva pastoral. A carta aos Romanos tem sido chamada de “carta profilática”.
Paulo sabia que a melhor proteção contra a infecção do falso ensino era o
antisséptico da verdade.
Paulo tem pelo menos
cinco propósitos em seu coração ao escrever esta carta:
1.
Pedir
oração da igreja em seu favor. Paulo estava prestes a
fazer uma viagem extremamente perigosa a Jerusalém (Rm 15.30,31). Ele temia
duas coisas: 1) que os judeus o matassem; 2) que os “santos” de Jerusalém nem
mesmo se dispusessem a receber o generoso donativo vindo dos crentes gentios
(At 20.3,22, 23). Ele foi alertado a não subir a Jerusalém (At 21.8-14). Foi
recebido com alegria (At 21.17), mas com sórdida crueldade pelos judeus que
conspiraram para o matá-lo (At 21.27-31). Pressentindo esse desfecho, Paulo
escreveu aos crentes de Roma pedindo oração em seu favor (Rm 15.30,31).
2.
Demonstrar
seu desejo de visitar a igreja de Roma. Ele
expressou esse desejo algumas vezes, mas isso lhe foi impedido (Rm 1.13).
Porque não pôde ir a Roma, Paulo escreveu essa carta, o maior tratado teológico
do Novo Testamento. Essa impossibilidade privou aqueles crentes por um tempo da
presença do apóstolo, mas abençoou todas as igrejas ao longo dos tempos, por
dessa carta inspirada.
3.
Demonstrar
seu desejo de compartilhar com os crentes de Roma algum dom espiritual. Paulo
tinha o interesse de ir a Roma para compartilhar com os crentes o Evangelho.
Mesmo não tendo sido o fundador da igreja, aquela igreja estava sob a
jurisdição espiritual, uma vez que era o apóstolo enviado por Jesus aos
gentios.
4.
Ser
enviado pela igreja de Roma à Espanha. Paulo queria uma base
missionária para os seus novos projetos. Depois de concluir seu trabalho
missionário nas quatro províncias da Galácia, Macedônia, (nordeste da Grécia),
Acácia (sudeste da Grécia) e Ásia Menor, Paulo tinha planos para ampliar, os
horizontes e chegar à Espanha (Rm 15.24,28), a mais antiga colônia romana no
Ocidente e o principal baluarte da civilização romana naquelas partes. Para
isso precisava de suporte financeiro e apoio espiritual (Rm 15.24).
5.
Fazer
uma exposição detalhada do Evangelho. Paulo desejava
repartir com a igreja da capital do império o significado do Evangelho. Nessa
carta ele discorre sobre a condição de ruína e perdição tanto dos gentios como
dos judeus. Também mostra que a salvação é pela graça, independentemente das
obras, tanto para os gentios como para os judeus – “O evangelho de Cristo, que a carta aos Romanos expõe, é a mais doce
música jamais ouvida na terra, a mais poderosa mensagem proclamada entre os
homens, o mais precioso tesouro confiado ao povo de Deus” (Charles Erdman).
AS PRINCIPAIS ÊNFASES
DA CARTA AOS ROMANOS
A carta aos Romanos é uma verdadeira
enciclopédia teológica. Alguns dos principais pontos abordados pelo apóstolo
nessa epistola são os seguintes:
1.
Mostrar a unidade da igreja.
A igreja de Cristo é formada por judeus e gentios. Pelo sangue de Cristo a
parede da separação foi derrubada e, agora, os judeus e os gentios constituem a
igreja (Ef 2.14-16; Rm 2.1s; 11.18 e 10.12). O mais importante de todos os
temas de Romanos é o da igualdade entre judeus e gentios.
2.
Evidenciar
a universidade do pecado. Paulo expõe com argumentos
irresistíveis a culpabilidade dos gentios e também dos judeus. Deus encerrou
todos no pecado para usar de misericórdia para com todos (Rm 3.23). Ninguém
vive à altura do conhecimento que tem, ou seja, todos carecem da glória de Deus
(Rm 1.18-32; 2.1-16; 3.9-2).
3.
Manifestar
a justiça de Deus no Evangelho. Na cruz de Cristo Deus
revelou sua ira sobre o pecado e seu amor ao pecador. A cruz de Cristo foi a
justificação de Deus, uma vez que nela Deus satisfez plenamente sua justiça
violada (Rm 1.18 com 3.21).
4.
Anunciar
a doutrina da justificação pela fé. A justificação não é
alcançada pelas obras da lei, mas pela fé na obra de Cristo. Não é o nós
fazemos, mas o que Deus fez por nós em Cristo que nos traz a vida eterna. Não é
a nossa justiça que nos recomenda a Deus, mas a justiça de Cristo a nós
imputada. O Justo justifica o injusto. Romanos quatro é brilhante ensaio que
prova que o próprio Abraão, foi justificado não por obras (4.4-8), nem por sua
circuncisão (4.9-12, nem pela lei (4.13-15), mas pela fé (4.11, 16-25).
5.
Proclamar
a nova vida na pessoa de Cristo. Deus nos salvo do pecado, e não no pecado (Rm 6.1). A salvação implica a libertação da condenação,
do poder e da presença do pecado. Não podemos viver no pecado, nós que para ele
morremos. Fomos crucificados com Cristo e sepultados com ele na morte pelo
batismo, de tal maneira que devemos considerar-nos mortos para o pecado e
carregar nosso certificado de óbito no bolso.
6.
Anunciar
a vida vitoriosa no Espírito. Depois de mostrar o
grande conflito interior e a total impossibilidade de alcançarmos uma vida
vitoriosa pela energia da carne (7. 1-24), Paulo exulta num brado de vitória ao
anunciar a vida triunfante que temos pelo Espírito (8.1-18). O Espírito Santo
nos vivifica, nos capacita e nos reveste de poder para vivermos em santidade.
7.
Revelar
a soberania de Deus na salvação. Paulo ensina de forma
grandiosa a doutrina da eleição da graça. Não somos nós que escolhemos a Deus,
mas é Ele quem nos escolhe. Deus nos escolhe não por causa de nossos méritos, mas apesar de nossos deméritos (9.1-11.36)
8.
Mostrar
a vital necessidade de relacionamentos transformados.
Depois que Paulo encerra a magistral sessão doutrinária, ele aplica a doutrina
mostrando a necessidade de estabelecermos relacionamentos corretos com Deus,
com nós mesmos, como o próximo, com os inimigos e com as autoridades
(12.1–13.7).
A carta termina com
uma longa lista de saudações, mostrando que a igreja precisa ser um lugar onde
florescem relacionamentos saudáveis, onde devemos ter corações abertos, mãos
abertas, casas abertas e lábios abertos para abençoar uns aos outros (16.3-24).
O fechamento da carta é uma explosão doxológica na qual o apóstolo exalta a
Deus por meio de Cristo.