INTRODUÇÃO
É bastante peculiar a
preocupação de R. C. Sproul em seu livro “O Mistério do Espírito Santo” quando
afirma que as inferências neopentecostais, põe em perigo o pleno sentido do Pentecoste na história eclesiástica.
A doutrina
do Espírito, mas especificamente, a que diz respeito ao dom do Espirito ou
batismo no Espirito Santo, como é mais conhecida, têm sofrido distorcões e
causado muitas divergências entre os grupos evangélicos por falta de
conhecimento desta doutrina. Muitos, sem fazer sequer um estudo textual do
livro de Atos, afirmam que o dom é uma segunda bêncão que evidencia o batismo
no Espírito e deve ser buscada, pois Deus só concede àqueles que se santificam
e o buscam. Porém, não é esta verdade que encontramos no texto de At 2.4.
Algumas questões
precisam ser levantada: será que Deus é individualista e faz acepção de pessoas
para dar o “dom”? Será que depende do
homem para receber, ou é somente de Deus? Será que Deus não tinha um propósito
com a descida do Espírito santo sobre todos os discípulos? Por último, Será que
este dom é para servir de espetáculo e provocar orgulho naqueles que recebe?
Elucidação
O livro de Atos dos
Apóstolos foi escrito pelo mesmo autor do Evangelho de Lucas para continuar a
história que Jesus começou a fazer e ensinar (At 1.1). Embora muitos defendam
que o título do livro deveria ser “os Atos do Espírito Santo”, a verdade é que
ele continua o ministério por meio de homens escolhidos por Jesus para esse
fim. O tema central continua sendo a Cristologia. Sendo que agora o Espírito
coopera e sem Ele não nada seria feito, pois Ele é Deus e sempre esteve
presente em toda a história da Igreja peregrina.
A manifestação do
Espírito na história da igreja, especialmente em Atos, cumpre um propósito
divino para a comunicação de sua Verdade a todos os povos (inclusive os
gentios) e com isso manter um relacionamento de Pai e filho. Pedro indica para
os zombadores que aquilo que eles acabavam de ver e ouvir era o cumprimento da
promessa de Deus, no profeta Joel, no sentido de derramar Seu Espírito sobre
toda carne (2.17), e todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo (v.
21). Joel, como Lucas (e Pedro), acha que a razão
de ser do grande evento escatológico no espírito não é tanto o derramamento
do espírito como tal quanto a promessa universal da salvação em prol da qual o
Espírito é derramado.
Lucas mostra a importância da descida
dizendo que quando o Espírito desceu (do céu) sobre aqueles que aguardavam a
promessa de Jesus (At 1.4, 8), eles não somente passaram a falar a mensagem
inspirados pelo Espírito, de acordo com a vontade do Espírito, para cumprir o
propósito de unir os povos, como também ele nos informa que aqueles que ouviam
eram despertados pelo Espírito e se convertiam. Porém, ele deixa bem claro que
tudo dependia de Deus. Os que receberam o dom do Espírito, nada fizeram para
receber. Todos estavam numa posição estática. Considerado o exposto, desejamos
meditar no seguinte tema:
Tema:
O
DOM DO ESPÍRITO: UM ATO SOBERANO DE DEUS
1.
É
PARA TODOS OS ELEITOS
Deus não faz acepção de
pessoas. Todos, que estão em Cristo, já foram feitos filhos de Deus, e
consequentemente, são de fato tratados de igual modo, por um Deus soberano,
amoroso e justo. É lamentável ver e ouvir pessoas tratando de Deus como se ele
fosse humano. A palavra de Deus diz que ele não é como o homem. Ele age de
conformidade com o seu conselho santo.
Fundamentado nesta
verdade da soberania de Deus, cremos que todos os eleitos, são batizados no
Espírito Santo, ou seja, todos recebem do mesmo Espírito, pois a promessa é
para nós e nossos filhos. Paulo diz que aquele que não tem o Espírito, esse tal
não é dele (Rm 8.9), e o Espírito testifica com o nosso espírito que somos
filhos de Deus (v. 16). Como, pois dizem alguns que o crente precisa buscar o
dom do Espírito para autenticar a fé? Certamente, estes não conhecem o Deus
Soberano que elege o seu povo.
Portanto, não adianta querermos mudar
esta verdade, pois tudo depende de um ato soberano de Deus para “todos” os eleitos. O homem é totalmente
inoperante nesta ação exclusiva de Deus. Ele apenas recebe como dádiva.
2.
CUMPRE UM PROPÓSITO DIVINO
Tudo que Deus fez e faz
tem um propósito definido no conselho eterno. Nada, absolutamente nada,
acontece por acaso. Por isso, podemos afirmar que “o dom do Espírito” veio
sobre a igreja para cumprir um mandato missionário determinando a forma de
comunicação para a pregação do Evangelho, e assim alcançar todas as nações.
É interessante
observarmos que todos aqueles que verdadeiramente são despertados pelo Espírito
Santo, imediatamente se manifestam convictos da verdade, e, logo, passam a
anunciar esta verdade, de acordo com o propósito divino. Eles são convencidos
de que não podem se calar, pois, antes importa agradar a Deus do que aos homens
(At 4.19).
O dom recebido tem esse
propósito definido por Deus. Não é o homem quem determina o que fazer com o dom
do Espírito Santo, pois ele é de Deus e só servirá a vontade de Dele. Todo
crente deve ter essa consciência de serviço a Deus. O dom não autentica nem
exalta aquele que recebe, “porque Deus é
quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”
(Fp 2.13).
Portanto, A única coisa sábia que
devemos fazer é obedecer à voz de Deus. O resto é Ele quem faz para cumprir
todo o seu propósito.
3.
ALCANÇA O RESULTADO DESEJADO
Se “todos” os eleitos recebem o dom, se Deus
“cumpre” o seu propósito, certamente
Ele também objetiva um resultado. Aqueles que recebem o dom do Espírito não
ficarão inertes, nem permanecerão estáticos após receberem o dom, pois Deus
fará com que ele pregue a mensagem para alcançar aqueles que foram destinados
para a salvação.
O ensino calvinista é
que o Espírito de Deus, através do ministério da Palavra, chama
irresistivelmente o eleito, regenerando-o e assim habilitando-o a responder
positivamente em fé à oferta das boas novas do Evangelho. Essa chamada é
irresistível, embora não se constitua uma violação da vontade do pecador.
Um dom que serve apenas
aos caprichos soberbos do homem, não pode ser caracterizado como um dom
espiritual vindo da parte de Deus, pois os dons de Deus são para o uso
exclusivo na expansão das boas novas de salvação, a fim de que todos em todo o
mundo conheçam a graça soberana de Deus. Uns responderão positivamente, para a
vida; outros porém, responderão negativamente para a morte. O que fica claro é
que o “dom do Espírito” alcança o
objetivo santo de Deus. É sempre independente da vontade humana porque é Deus
que decide, aliás, Ele já decidiu no conselho eterno.
Portanto, estamos persuadidos, e aqui
reafirmamos que Deus não faz nada que possa ser frustrado porque ele tem tudo
planejado na eternidade e fará cumprir para que seja alcançado o seu desejo.
CONCLUSÃO
Gostaria
de concluir esse pequeno comentário citando um texto de John R. Stott: “Em cada
tipo de batismo... há quatro elementos. Os dois primeiros são o sujeito e
objeto, ou Seja, o batizador e o batizado. Em terceiro lugar, há o elemento com
ou em (en) que o batismo é realizado, e, em quarto lugar, o propósito”.
Nesse caso, o Espírito Santo é o Sujeito que batiza, os eleitos, é o objeto que
recebe o batismo (ou dom), e o propósito é a formação da nova igreja universal.
Antony Hoekema diz:
“ser batizado com o Espírito é descrito como idêntico à regeneração – com o
soberano ato de Deus pelo qual somos feitos um com Cristo e incorporado no seu
corpo”. Você não precisa buscar um “batismo do Espírito Santo como uma
experiência pós-conversão, como diz Paulo aos Coríntios e serve pra nós; quem
está em Cristo, já foi batizado com ou no Espírito”! e, “o fato de que todos sejam
batizados com o Espírito não significa que já estejam sempre entregues
plenamente ao Espírito ou cheios do Espírito”.
Ipanguaçu/RN,
27 de Abril de 2014 – Pr, José Francisco.
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