Evangelho de João Capítulo 4.1-42
Temos
aqui um memorável diálogo entre Jesus e uma mulher, que conhecemos apenas pelo
nome de "a mulher samaritana". Esse diálogo se deu em Samaria. Mas
Jesus estivera na Judéia pouco antes. Por que foi para a Galiléia? Para evitar
dificuldades entre os seus discípulos e os de João Batista (3.25; 4.1-3). Jesus
nos é apresentado através, das Escrituras, como "O Príncipe da Paz",
e é ele quem nos ensina a viver em paz: evitando as dificuldades e fugindo
delas. O seu Apóstolo compreendeu isso e o ensinou, ao preceituar: "quanto
depender de vós, tende paz com todos os homens" (Rm 12.18). Foi nessa
viagem, quando fugia de dificuldades, que se verificou o diálogo entre ele e a
mulher samaritana. Nesse diálogo temos o que podemos chamar "a sua
revelação". Nesta revelação, em que ele aparece como Salvador, vemos que
ela se faz, ora pelo próprio Jesus, ora pela experiência dos seus
interlocutores, atribuindo-lhes os horizontes do coração e da mente até que ela
se torne completa (v.42), e seja um patrimônio da alma: "Sabemos que este
é verdadeiramente o Salvador do mundo".
1
-
Nesta revelação observamos como Jesus se revela o Salvador: a) Pelo seu
interesse em salvar os perdidos; procurando-os: "Era-lhe necessário passar
pela província de Samaria". Aquele caminho escolhido e preferido por Jesus
era evitado por todos os judeus. Portanto, que interesse havia nele, para
Jesus? Pecadores para serem salvos por ele; b) sacrificando os seus maiores
interesses por eles (vv.31,34). O contexto permite concluir que ele não comeu
nem bebeu. Absorveu-se na sua missão. À insistência dos discípulos:
"Mestre, come". Ele responde: "A minha comida consiste em fazer
a vontade daquele que me enviou a realizar a sua obra". Ele tinha bem
nítidas, uma consciência e uma preocupação: veio para salvar e tinha que
realizar essa obra, que ia lhe custar a própria vida; c) provocando
oportunidade para falar com os pecadores e dessa maneira descobrir- lhes o
coração, bem como as suas necessidades. "Dá-me de beber". Esse pedido
feito à samaritana foi a porta de entrada para aquele diálogo revelador entre
ele e ela (vv.6-8). Ele não salva somente quando acha oportunidade; ele procura
e descobre essa oportunidade; d) apresentando-se como o dom de Deus, ao mundo a
que se refere Jo 4.10: "Se conheceras o dom de Deus". Ele é o doador
da vida eterna, plena satisfação em contraste com as satisfações passageiras do
mundo, que, por muito boas que pareçam, por fim enfadam (v.15). O pecador
precisa conhecer o dom de Deus, Cristo, para ser salvo: "Se tu conheceras
o Dom de Deus, e quem é aquele que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias e
ele te daria água viva". Jesus se apresenta e se faz conhecer como esse
dom. Ele está sempre ao alcance do pecador e pronto para salvá-lo: "Tu
lhe pedirias e ele te daria água viva".
2 - Revelando-se como
Profeta. Logo que ele descobre a vida da mulher samaritana, como é que ela
vivia (vv.16,18,19), ela percebe que não está tratando com um simples judeu,
como pensava (v.9), porém, com um profeta e o declara: "Senhor, vejo que
és profeta" (v.19). E por isso faz referência ao culto que os judeus e os
samaritanos prestavam a Deus. Ela aproveita a oportunidade para obter
esclarecimento sobre esse assunto. Como profeta, ele passa a ensinar: a) sobre
o verdadeiro culto que se deve prestar a Deus (vv.21,24), assunto sobre o qual
havia muita confusão (v.20): "Nossos pais adoravam neste monte; vós dizeis
que é em Jerusalém o lugar em que se deve adorar: e não se chegava a um acordo;
b) a ela, que já tinha alguma ideia, embora vaga, sobre o Messias e a sua obra
de ensinar (v.25), Jesus se apresenta como o Messias que esperavam (v.26); c)
como resultado daquela palestra, ela se aprofunda na sua experiência sobre
Jesus, e diz aos seus patrícios samaritanos: "Vinde comigo e vede um homem
que me disse tudo quanto tenho feito; será este, porventura, o Messias?"
Sua compreensão é progressiva: descobre em Jesus um profeta e que ele é o
Cristo; ainda como profeta ele fala com os seus discípulos, e de maneira
otimista, sobre o futuro próximo do reino de Deus (v.35): "Erguei os
vossos olhos e vede..." Na seara material ele via uma figura da seara e
colheita para o reino de Deus (v.41): Almas que se aproximavam dele (v.30).
3
–
Completa-se a revelação do Salvador, com a experiência que os samaritanos
tiveram com Jesus durante dois dias. Falavam com Ele e dele tiveram as
instruções e as provas necessárias para uma conclusão segura: "Nós sabemos
que este é verdadeiramente o Salvador do mundo..." (v.42). Não se trata
mais do Messias prometido a Israel (v.25), muito mais do que isso: É o Salvador
do mundo. Assim conclui a experiência pessoal da alma com Cristo. A experiência
maior ou menor com referência à pessoa de Jesus, como Salvador, está na razão
direta da nossa maior ou menor convivência e comunhão com ele. Conclusão:
"Vindo, pois, os samaritanos ter com Jesus, pediam-lhe que permanecesse
com eles; e ficou ali dois dias" (v. 40). Aqui está a chave do segredo
para se gozar o dom da salvação: Permanecer com Cristo. Ele atendeu ao pedido
dos samaritanos para ficar com eles, atendeu ao pedido dos discípulos no
caminho para Emaús: "Fica conosco" (Lc 24.29). Quantas bênçãos e
quanta felicidade decorrentes desse desejo cumprido. Ele está pronto para ficar
conosco o tempo que quisermos e o lucro será nosso. Nessa comunhão
descobriremos nele o nosso profeta; o nosso Messias e o nosso Salvador.
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