Os evangelhos nos falam sobre o momento quando alguns romanos, reunidos
em um palácio, na presença de pessoas ilustres, ajoelharam-se diante de Jesus e
o adoraram dizendo: "Salve, Rei dos Judeus". Narrando assim, de forma
resumida, porém fiel ao conteúdo bíblico, a cena pode passar a ideia de um
culto. Até mesmo alguém que entrasse naquele recinto poderia pensar dessa forma
(Mt 27.27-31; Mc 15.16-20; Jo 19.1-5). Entretanto, aqueles
"adoradores" eram soldados que prendiam o Senhor. Faziam aquilo como
forma de escárnio. Foram os mesmos que colocaram uma coroa de espinhos em sua
cabeça, cuspiram-lhe na face, deram-lhe bofetadas e bateram-lhe com uma cana,
fazendo com que os espinhos se encravassem em sua fronte. Saindo dali, o
levaram para ser crucificado. Perfuraram suas mãos, seus pés, e, mais tarde,
traspassaram seu corpo com uma espada. Só não lhe quebraram as pernas porque,
àquela altura, ele já estava morto.
Esse episódio nos leva a refletir sobre a religiosidade, o louvor e a
adoração, em contraste com o nosso modo de vida. O que fazemos nos cultos
reflete fielmente o que somos, ou é apenas uma cena momentânea? Aqueles homens
não eram servos de Deus, embora sua boca confessasse que Jesus é o Rei. Louvamos
e adoramos ao Senhor, de fato, ou estamos escarnecendo de sua majestade? Estar
ajoelhado fisicamente não é tudo. Precisamos assumir uma vida de submissão ao
Senhor. Dizer as palavras corretas não preenche o vazio de uma vida errada.
Em um momento estavam ajoelhados diante de Jesus. Em outro, estavam
agredindo o Senhor. Saindo dali, o levaram para ser crucificado. O que fazemos
depois que saímos do local de culto? Estaremos levando o Senhor para ser
novamente crucificado? (Hb 6.6). Como é a nossa vida fora do templo?
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus,
mas aquele que faz a vontade de meu Pai..." (Mt 7.21). O culto ao Senhor
só é verdadeiro e satisfatório se for um modo de vida. Se nos dirigimos a ele
como Rei, precisamos estar dispostos a obedecê-lo. Aqueles soldados o chamavam
de "Rei", mas, na realidade, o rei deles era César. Quantos proclamam
que Jesus é o seu Senhor, mas vivem servindo ao Diabo! Suas palavras são
maravilhosas, mas suas vidas são motivo de sofrimento para o Senhor e vergonha
para o evangelho.
Aquele episódio no Pretório de Pilatos nos leva a uma reflexão muito
profunda quando o analisamos sob o enfoque da oportunidade perdida. Jesus
estava entre aqueles homens. Eles o conheceram pessoalmente. Estiveram no
cenário do maior ato divino em favor da humanidade. No entanto, perderam aquela
oportunidade de se tornarem cristãos e filhos de Deus. Quantos desejam ver
Jesus, mas não podem! Aqueles soldados tiveram uma chance extraordinária e
perderam-na de modo absurdo.
Agora, cabe a nós a análise da oportunidade que o Senhor nos dá hoje.
Conhecemos a sua palavra, o seu amor e a sua bondade para conosco. Ele está
entre nós, na pessoa do seu Espírito Santo. Não podemos perder a chance de
sermos cristãos autênticos.
Depois que Jesus expirou, "o centurião e os que com ele guardavam
Jesus, vendo o terremoto e as coisas que aconteciam, tiveram grande temor, e
disseram: Verdadeiramente este era filho de Deus". (Mt 27.54). Não podemos
avaliar a amargura que dominou o coração e a alma daqueles soldados, quando
constataram o grande mal que haviam feito.
Após a ressurreição dos mortos, aqueles mesmos homens verão o Senhor
novamente. "Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo
aqueles que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre
ele..." (Ap 1.7). Naquele momento, será tarde demais para o arrependimento
e a conversão, mas hoje ainda existe oportunidade para nós.
O Senhor deseja que todos se salvem. Ele quer que reconheçamos os nossos
pecados e nossa vida errada diante da sua presença. Ainda há tempo. Jesus
continua sendo Rei e espera que todos os homens se submetam espontaneamente ao
seu domínio, antes que ele venha como juiz e se assente no grande trono para o
julgamento final.
Autor: Anísio Renato de Andrade – Bacharel em
Teologia.
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