quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO CRISTÃO EM GERAL (1º)


Que o homem é responsável por seu próximo é claramente ensinado na Escritura. O que aparentemente não é óbvio a alguns cristãos é que esta responsabilidade se estende às responsabilidades sociais bem como às espirituais. Um levantamento das Escrituras apoiará a posição de que o dever do cristão para amar inclui as dimensões sociais bem como espirituais do amor.

A. A Responsabilidade para com Outras Pessoas

É aparente em todas as partes da Escritura que os homens realmente têm uma responsabilidade diante dos outros. A resposta de Caim: "Acaso sou eu tutor de meu irmão?" é um "Sim" claro. Até mesmo antes de Caim, Adão recebeu a responsabilidade pela sua esposa, fato este que está subentendido no fato do mandamento destinado para Adão e Eva juntos, ter sido dirigido para Adão somente (Gn 2: 16, 17). Mais tarde, quando o assassinato e a violência encheram a terra, Deus deu aos homens a autoridade para administrar a pena capital, a fim de refrear a violência (Gn 9: 6). Esta responsabilidade dos homens uns pelos outros mediante o governo, é vista no decurso do restante do Antigo Testamento (cf. Dn 4:17), e também no Novo Testamento (cf. Rm 13:1-7).
A responsabilidade não é meramente proteger vidas inocentes; também inclui fazer o bem positivo em prol dos outros. Segundo Jesus, é o ensino do Antigo Testamento também que o homem é responsável por amar seu próximo como a si mesmo. Jesus disse que o amor é a essência da lei moral (Mt 22:39). Até mesmo disse que a totalidade da moralidade do Antigo Testamento podia ser reduzida à Regra Áurea (Mt 7:12). Exemplos específicos daquilo que significa amar aos outros não faltam nem na vida nem nos ensinos de Cristo. As curas que Jesus fez dos mancos, dos leprosos e dos cegos, ilustram Sua própria solicitude, e sua história acerca do Bom Samaritano demonstra o amor que todos os homens devem ter para com os outros (Lc 10:30ss).
As Epístolas do Novo Testamento abundam de exortações para os cristãos cuidarem uns dos outros e dos de fora. Paulo escreveu: "Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros" (Fp 2:4). Outra vez: "levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo" (Gl 6:2; cf. v. 10). A Primeira Epístola de João é muito explícita no que diz respeito à responsabilidade do cristão no sentido de amar aos outros, (cf. 3:17-18), como o é também a de Tiago (cf. 1:27). Em síntese, o homem é moralmente responsável pelos demais homens. Ele é o guardião do seu irmão.

B. A Responsabilidade para com a Pessoa Total

O que os cristãos às vezes não percebem, é o fato de que a responsabilidade de amar às outras pessoas se estende à totalidade da pessoa. Ou seja, o homem é mais do que uma alma destinada para outro mundo; é também um corpo que vive neste mundo. E como residente desta continuidade do tempo e do espaço o homem tem necessidades físicas e sociais que não podem ser isoladas das necessidades espirituais. Logo, a fim de amar ao homem conforme ele é — o homem total — é necessário ter uma solicitude acerca das suas necessidades sociais, bem como das suas necessidades espirituais.
Parte do descuido do "homem total" tem sua origem na ênfase platónica não-cristã sobre a dualidade do homem. Esta ênfase foi digerida pelos cristãos na Idade Média e tem sido transmitida para o presente.2 Em essência, argumenta que o homem é essencialmente um ser espiritual e que apenas tem conexão funcional com um corpo que, na melhor das hipóteses, é um impedimento, e na pior, um grande mal. A correção deste erro é achada no ensino bíblico acerca da unidade essencial do homem, e da qualidade boa da criação física e corpórea, feita por Deus (cf. Gn 1:31). Tanto a unidade do homem quanto a bondade do corpo ficam evidentes na doutrina cristã da ressurreição, fato este que é repugnante à mente grega (cf. At 17:32). A ressurreição do corpo não faria bom senso se os homens fossem completos sem seu corpo. Do outro lado, se o homem é essencial e permanentemente um corpo com alma, neste caso a negligência de qualquer aspecto é um erro sério. Se o homem deve ser amado como homem, deve-se amá-lo conforme ele é (e conforme ele será) viz., como criatura física e social, bem como espiritual.
Até mesmo se alguém rejeitar as doutrinas da unidade do homem e da imortalidade do corpo, é miopia demonstrar preocupação somente com as dimensões espirituais da vida. Os homens nesta vida, pois, têm mesmo corpos, e não podem viver aqui sem eles. Se, portanto, devemos alcançá-los para o mundo do porvir — se vamos salvar suas "almas" — então isto deve ser realizado através dos corpo deles. Os corpos que estão morrendo de fome dificilmente ficarão impressionados com a mensagem acerca do pão da vida, se nós lhes recusamos o alimento para esta vida. Jesus alimentou a multidão faminta com pão físico antes de pregar-lhe acerca do pão espiritual (Jo 6:11ss.). Os homens não têm muita probabilidade de sentirem sede pela água da vida enquanto estiverem assoberbados pela sede física. Noutras palavras, se os cristãos não mostrarem nenhuma solicitude para com as necessidades físicas e sociais básicas dos homens, neste caso não poderão esperar uma resposta multo positiva da parte deles para sua mensagem espiritual.

II. AS RESPONSABILIDADES SOCIAIS ESPECIFICAS DO CRISTÃO

Uma maneira de demonstrar que os cristãos realmente têm uma responsabilidade social, é mediante uma discussão das exortações específicas da Escritura quanto a isto. Há, muitas áreas de necessidades para as quais o cristão é responsabilizado com amor. A primeira área, e a mais básica, é a responsabilidade pelos seus.

A. A Responsabilidade Social Pelos Seus

A responsabilidade de uma pessoa prover para si mesmo e para sua própria família é sua responsabilidade social básica. Num tipo de sociedade socialista, é fácil esquecer que a sociedade não deve o sustento aos capacitados; pelo contrário, deve-lhe a oportunidade de ganhar a vida. É neste sentido que há verdade no lema: "Luto contra a pobreza; trabalho."3
1. Prover para Si Mesmo — Há um sentido em que o amor-próprio está na própria base da responsabilidade social.4 O homem deve amar a seu próximo como a si mesmo. Paulo disse: "Porque ninguém jamais odiou a sua própria carne, antes a alimenta e dela cuida...' (Ef 5:29). No entanto, nem todos amam a si mesmo de um modo apropriado. O modo apropriado de amar a si mesmo é prover as necessidades básicas para sua própria existência. Não será possível viver e amar aos outros a não ser que a pessoa ame sua própria vida e a sustente. "Contudo vos exortamos, irmãos," escreveu Paulo, "a diligenciardes por viver tranquilamente, cuidar do que é vosso, e trabalhar com as próprias mãos, como vos ordenamos; de modo que vos porteis com dignidade para com os de fora e de nada venhais a precisar" (1 Ts 4:11, 12). Na sua Segunda Epístola aos Tessalonicenses, o apóstolo lembra do seu próprio exemplo: "Nunca nos portamos desordenadamente entre vós, nem jamais comemos pão, de graça, à custa de outrem; pelo contrário, em labor e fadiga, de noite e de dia, trabalhamos, a fim de não sermos pesados a nenhum de vós" (3:7, 8). E deixou este mandamento com eles: "Se alguém não quer trabalhar, também não coma" (3:10).5
Destarte, uma das coisas mais importantes que cada homem capaz pode fazer em prol dos outros, é ganhar sua própria vida. Porque se cada homem que pudesse se tornasse independente, logo haveria menos homens dependentes dos outros para suas necessidades sociais básicas. Ou seja: o bem social fundamental que o homem pode fazer pelos outros é prover para si mesmo de modo que outros não precisem prover tanto para si mesmos quanto para aqueles que se recusam a se sustentar. Neste sentido, o amor-próprio é um dos bens sociais primários, e mais fundamentais que alguém pode realizar.
2. Provendo para Sua Família — Naturalmente, nem toda pessoa está capacitada a prover para si mesma. Há crianças, dependentes, viúvas, órfãos, e outras pessoas indigentes. Se acontecer que alguma destas pessoas está na família imediata dalguém, ou entre seus parentes, neste caso é sua responsabilidade social prover por elas. Quanto a este aspecto, a Bíblia é muito clara: "Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos de sua própria casa, tem negado a fé, e é pior do que o descrente" (1 Tm 5:8). Além disto: "Se alguma crente tem viúvas, socorra-as e não fique sobrecarregada a igreja, para que esta possa socorrer as que são verdadeiramente viúvas" (v. 16). A lição é que a obrigação social primária pelos pobres e necessitados não recai sobre a igreja nem sobre o estado, mas, sim, sobre a família imediata. Isto não significa, naturalmente, que a pessoa não possa cumprir sua responsabilidade social aos parentes, indiretamente, através da assistência social que é sustentada pelos seus impostos. Significa, isto sim, que o indivíduo capaz deve prover para seus parentes dalguma maneira, seja através do estado, seja por conta própria.
Do outro lado da questão, está subentendido que pessoas capazes, sejam elas viúvas ou não, proverão para si mesmas de modo que os parentes, a igreja ou o estado não tenha que prover para elas. Paulo não permitia que viúvas com menos de sessenta anos de idade fossem colocadas no rol da assistência, e mesmo então, somente aquelas que anteriormente tinham ajudado a outras eram arroladas (1 Tm 5:9, 10). As viúvas mais jovens eram encorajadas a manter-se ocupadas e a casar-se de novo (v.14). A regra subentendida a cada passo é que a pessoa deve prover para seus próprios, a não ser que seja incapaz de cuidar de si mesma. Se alguém deixar de prover para seus parentes indigentes, fracassou na sua responsabilidade cristã básica à sua própria família.
3. Provendo para Seus Irmãos Crentes — Segundo as Escrituras, a próxima responsabilidade social da pessoa é aos demais crentes. Além das da sua própria família, há as necessidades doutros crentes, que devem preocupar o cristão. Paulo conclamou os gálatas: "Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé" (6:10). O próprio Paulo estava muito ativo em levantar uma oferta para os santos pobres em Jerusalém (cf. Rm 15:26). João, semelhantemente, ressaltou a providência para as necessidades dos irmãos, e escreveu: "Ora, aquele que possuir recursos deste mundo e vir seu irmão padecer necessidade e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?" (1 Jo 3:17).
Tiago é igualmente firme na ênfase sobre a providência para os irmãos: "Se um irmão ou irmã estiverem carecidos de roupa, e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: 'Ide em paz, aquecei-vos, e fartai-vos,' sem, contudo, lhe dardes o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?" (Tg 2:15, 16). A fé sem obras é morta. Conforme a expressão de João: "Se alguém disser: 'Amo a Deus,' e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê" (1 João 4:20). E a marca mais básica do amor cristão é o amor aos irmãos. Jesus disse: "Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros" (Jo 13:35). A responsabilidade social do cristão, quanto ao amor além da sua própria família, começa com a família de Deus. Esta verdade também é subentendida no cuidado da igreja primitiva com suas próprias viúvas (At 6:1; 1 Tm 5:9ss).
Não se segue disto que os cristãos não devam se preocupar socialmente com os não-cristãos. Longe disto. A Bíblia está repleta de evidências de que os crentes devem fazer o bem a todos os homens. A solicitude social dos cristão deve começar com sua própria família e com outros crentes, mas não deve terminar ali.

Esse pequeno estudo (parte 1) está baseado no oitavo Mandamento da Lei de Deus.

Pr. José Francisco.

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