A vida cristã é viva no Espírito. Todos os cristãos
concordam nisso com alegria. Sena impossível ser cristão, sem falar em viver e
crescer como cristão, sem o ministério do gracioso Espírito de Deus. Tudo o que
temos e somos como cristãos devemos a ele.
Assim, cada cristão tem uma experiência do Espírito
Santo desde os primeiros momentos da sua vida cristã. Para o cristão, a vida
começa com um novo nascimento, e o novo nascimento é um nascimento "no
Espírito" (João 3:3-8). Ele é o "Espírito da vida", e é ele quem
dá vida às nossas almas mortas. Mais que isto, era vem pessoalmente morar em
nós, de maneira que a presença do Espírito é o privilégio que todos os filhos
de Deus têm em comum.
Será que Deus nos faz seus filhos e depois nos dá seu
Espírito, ou será que ele nos dá primeiro seu "Espírito de adoção",
que nos torna seus filhos? Podemos responder que Paulo diz as duas coisas. Por
um lado, "porque vós sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o
Espírito de seu Filho" (Gál. 4:6). Por outro lado, "todos os que são
guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque não recebestes o
espírito de escravidão para viverdes outra vez atemorizados, mas recebestes o
espírito de adoção" (Rom. 8:14-15). Não importa como você encara a
questão: o resultado é o mesmo. Todos os que têm o Espírito de Deus são
filhos de Deus, e todos os que são filhos de Deus têm o Espírito de
Deus. É impossível, até inconcebível, ter o Espírito sem ser filho, ou ser
filho sem ter o Espírito. Além disso, uma das primeiras obras do Espírito que
mora em nós, e, graças a Deus, sempre repetida, é assegurar-nos que somos
filhos, especialmente quando oramos. Quando "clamamos: Aba, Pai!", 'o
próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus"
(Rom. 8:15,16; veja Gál. 4:6). Ele também inundou nosso coração com o amor de
Deus (Rom. 5:5). Paulo resume o assunto ao dizer que "se alguém não tem o
Espírito de Cristo, este tal não é dele" (Rom. 8.9; veja Judas 19).
Toda esta passagem em Rom. 8 é muito importante,
porque demonstra que, no entender de Paulo, estar "em Cristo" e
"no Espírito", ter "Cristo em vós" e "o Espírito em vós" são todas expressões
sinônimas. Ninguém pode ter Cristo, portanto, sem ter o Espírito. O próprio
Jesus deixou isto claro em seu discurso no Cenáculo, quando não fez distinção
entre a "vinda" a nós das três pessoas da Trindade. Ele disse
"eu virei", "nós viremos" (o Pai e o Filho) e "o
Consolador virá" (João 14:18-23; 16:7-8).
Depois que ele vem a nós, passando a residir em nós,
tornando nosso corpo seu templo (1 Cor. 6:19,20), começa sua obra de
santificação. Em poucas palavras, seu ministério implica tanto em revelar-nos Cristo
como em formar Cristo era nós, de maneira que cresçamos firmemente em nosso
conhecimento de Cristo e em nossa semelhança com ele (veja, p. ex., Efés. 1:17;
Gál. 4:19; 2 Cor. 3:18). Pelo poder do Espírito que habita em nós os desejos
maliciosos da nossa natureza decaída são controlados e o bom fruto do caráter
cristão é produzido (Gál. 5:16-25). Da mesma forma, o Espírito não é uma
propriedade particular,
que ministra somente aos cristãos
individualmente; ele também une todos no Corpo de Cristo, a Igreja, de maneira
que a comunhão cristã é "a comunhão do Espírito Santo", e o culto
cristão é adoração no ou pelo Espírito Santo (p. ex., Filip. 2:1; 3:3). Também
é ele que chega a outros através de nós, levando-nos a testemunhar de Cristo, e
equipando-nos com dons para o serviço para o qual ele nos convoca. Além disso,
ele é chamado de "o penhor da nossa herança" (Efés. 1:13,14), porque
sua presença dentro de nós é tanto a garantia de que iremos ao céu quanto o
antegozo dele. Por fim, no último dia sua atividade será a de ressuscitar
nossos corpos mortais (Rom. 8:11).
Esta visão de relance de algumas das principais
atividades do Espírito Santo na experiência do cristão deve bastar para mostrar
que, do começo ao fim da nossa vida cristã, somos dependentes da obra do
Espírito Santo – o Espírito, nas palavras de Pauto, "que
nos foi outorgado (dado)" (Rom. 5:5). Eu creio nisto, e espero que todos
os cristãos concordem comigo.
Todavia, será que este "dom" do Espírito prometido é a mesma coisa que o "batismo" do Espírito
Santo? É neste ponto que as convicções diferem. Alguns dizem "sim";
outros, "não". Os que dizem "não", crêem que
"dom" e "batismo" são diferentes, passam a ensinar que o
"batismo" é uma segunda experiência, subseqüente, mesmo se, pelo
menos em termos ideais, ela segue a primeira muito de perto. Por outro lado,
para os que crêem que ambos são idênticos, e que ser "batizado" com o
Espírito é uma figura vívida para ter "recebido" o Espírito, o
"batismo" é algo que todos os cristãos tiveram. Esta é a minha
convicção, e em seguida explicarei o que entendo ser a base bíblica para esta
posição.
Não estamos fazendo um jogo de palavras superficial,
como poderia parecer. Pelo contrário, nossa posição terá um impacto
considerável sobre a compreensão da nossa peregrinação cristã pessoal e sobre
nosso aconselhamento de outras pessoas. Por isso, precisamos estudar algumas
passagens bíblicas importantes, porque tratam desta questão. Antes, no entanto,
precisamos visualizar o cenário do nosso debate.
Ao estudarmos a Bíblia, sempre é essencial que
interpretemos um texto em seu contexto, e, quanto mais amplo for o contexto,
mais correta provavelmente será nossa interpretação. O contexto mais amplo
possível é a Bíblia toda. Cremos que toda a Bíblia é a Palavra escrita de Deus.
Por isso, já que Deus não se contradiz, concluímos que a Bíblia é uma revelação
divina harmoniosa. Nunca devemos "expor uma passagem da Escritura de uma
maneira que seja repugnante a outra" (Vigésimo artigo dos 39 artigos da
Igreja da Inglaterra). Antes devemos interpretar cada trecho bíblico à luz de
toda a Escritura.
Ao aplicarmos este princípio à nossa pesquisa do que é o "batismo do Espírito", perceberemos antes de tudo que a expressão é exclusiva do Novo Testamento (onde ocorre sete vezes), mas que, mesmo assim, é o cumprimento de uma expectativa do Antigo Testamento. Esta expectativa geralmente era expressa em termos da promessa de Deus de "derramar seu Espírito, sendo que o apóstolo Pedro, em seu sermão no dia de Pentecostes, igualou especificamente o "derramamento" do Espírito (prometido por Joel) ao "batismo" do Espírito (prometido por João Batista e Jesus). As duas expressões estavam se referindo ao mesmo evento e à mesma experiência.
Retirado do Ebook: Batismo e Plenitude do Espírito Santo - John Sttot.
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